sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Um dia em Budapeste (em homenagem à net-amiga Francine)

A Francine me perguntou se Budapeste valia a pena. Avaliem vocês mesmos (vc também, Francine!) e comentem o que acham...

Chegamos a Budapeste às sete horas da manhã. A vovó estava supercansada, pois não tinha dormido tão bem na viagem de trem. Pegamos uma cabine com cama para quatro pessoas: a reserva não era tão cara (20 euros contra 100 de uma cabine dupla sozinha e 8 euros de uma com seis pessoas) e ficava mais confortável para ela, mas mesmo assim ela não consegue dormir bem em trens. Como eu tinha feito pesquisa de hotéis antes de viajar e estava com os preços no guia que preparei, recusei quando uma moça me abordou na estação, oferecendo hotéis a 100 euros a diária. Disse que tinha pesquisado alguns a 60 euros e não pagaria aquele valor. Ela então me levou até uma cabine de turismo na estação de trem, “lembrando” que havia um bom hotel em promoção naquele valor (O Matyas, que você pode achar no ótimo site http://www.save-on-budapesthotels.com/) . Se um hotel vai custar a mesma coisa que os albergues que pesquisei, lá vamos nós, porque vai ficar confortável para a vovó, economizamos com um bom café da manhã e ainda por cima o transporte do hotel para a estação e vice-versa está incluído. Assim, ficamos bem próximas à ponte do Danúbio.

A ponte divide a parte Buda e a parte Peste da cidade. Como chegamos às oito horas no hotel, fizemos o check-in e fomos direto para o melhor café da manhã da viagem: além da comida típica européia – croissant, nutella, muitos queijos, havia alguns pratos típicos da Hungria, como algumas espécies de bolo com farinha integral e especiarias que eram uma delícia. O quarto também era um dos melhores da viagem, com uma ducha maravilhosa que eu tomei enquanto a vovó foi dormir. Afinal, estávamos a quarenta dias viajando e já havíamos passado por 10 cidades: o cansaço começava a bater.


Enquanto a vovó dormia, andei pela cidade. Ela era cheia de galerias, acho que iam dar no metrô. Conversei com as pessoas e descobri que a Cidadela era o melhor lugar para conhecer por lá. A vovó já não estava com tanto pique para ir de ônibus, fiquei com medo que ela dormisse no city-tour e preferi fazer por uma agência.



Descolei então uma outra agência de viagens perto do hotel para fazer um passeio, depois fui andar pela ponte do Danúbio, onde descobri um monumento cheio de escadarias que terminava num mirante. O lugar era um verdadeiro labirinto, cheio de árvores floridas e colunas dóricas, com pessoas andando e namorando por ali. Subi no mirante para olhar a cidade.
De lá, eu via o parlamento. Tanto o parlamento quanto as outras construções da cidade, são um misto de arquitetura clássica européia e arquitetura bizantina, dando à paisagem um jeito único.
Uma outra coisa me chamou a atenção: algumas partes da cidade pareciam pouco conservadas, mas também não estavam destruídas. Davam apenas a impressão de que tudo era muito velho. Eu não entendia bem o porque, já que as construções de Paris ou Praga também possuem séculos e estão conservadas. Foi apenas quando fui a Cuba e vi o mesmo “estilo” dos prédios que compreendi que o regime de contenção dos recursos do período comunista havia durante bastante tempo diminuído o investimento na conservação dos prédios. Ainda assim, boa parte da cidade estava conservada e a arquitetura se erguia imponente. Voltei para o hotel ansiosa para conhecer a Cidadela. Sou muito mais as ruínas de um castelo antigo do que o luxo de Versalhes, então realmente a cidadela respondeu às minhas expectativas: cheia de curvas, de galerias por onde você pode olhar a cidade, onde é possível percorrer um monte de caminhos.
Ela é na verdade a fortificação murada de um castelo húngaro, que atualmente é museu. Infelizmente, o museu estava fechado naquele dia, pois estava em reforma durante uma semana, mas ficamos sabendo que ele contava a história do castelo, com armas medievais, fardas reais e tudo mais que um conto de dragão e princesa tem direito.

Do outro lado, existe uma parte do castelo que ainda funciona e de onde nós vimos até a troca da guarda. Em todo o espaço da cidadela, existem algumas pessoas vestidas com roupas medievais que cultivam gaviões e se apresentam para os turistas
Passeamos o dia inteiro, a vovó de vez em quando sentava nos bancos para descansar e olhar a vista, enquanto eu percorria a cidadela de um lado para o outro, tirando fotos de todos os lugares. Depois voltamos com a excursão até o centro, arrumamos um restaurante próximo e resolvemos voltar andando para o hotel, assim conhecíamos melhor a cidade. Quando chegamos na rua que beirava o rio, descobrimos a beleza de Budapeste à noite: a cidade brilha como Paris, mas tem uma vista cheia de cúpulas e árvores que me faz pensar em As mil e uma noites. Sentamos num banco à margem do Danúbio, conversando até quase à meia noite: o melhor mesmo é não voltar.





terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Havana: Charutos e Santerias

A maioria da população de Cuba é afrocubana. É superinteressante ver na rua, vira e mexe, alguém vestido inteiramente de branco por que deu obrigação num terreiro cubano. Ou uma moça que foi jantar toda vestida de amarelo - obrigação de 7 anos para Oxum - no restaurante onde eu estava (um dos poucos onde também vão cubanos, pois a comida é relativamente barata, já que todos lá são aprendizes de garçom, cozinheiro, etc). Aquelas roupas que no Brasil só se vê em terreiro de umbanda e candomblé, em Cuba se vê no meio da rua, e mesmo com uma grande parte da população católica, o respeito e a boa convivência religiosa acontecem numa boa. E há um bairro inteiro de cultura afrocubana, com um totem para Xangô bem no meio da rua! A Santeria cubana é também uma das explicações para os bons charutos: segundo a crença popular, o charuto é capaz de afastar os maus espíritos, o que contribuiu para difundir o seu cultivo por uma ilha onde 55% da população quer afastá-los. A maioria das pessoas que trabalham na fábrica de charutos que visitei (Partagás, atrás do Capitólio, uma das mais tradicionais de Havana, de 1845) eram da santeria, e nossa guia, santeira filha de Iansã, queria muito vir ao Brasil para conhecer os terreiros da Bahia, principalmente o da mãe menininha do Gantois (!). Os charutos cubanos são feitos manualmente, e sua fabricação é muito parecida com a do vinho - precisam ser transportados numa temperatura certa, cada folha, de acordo com seu cultivo, é responsável por um aspecto (aroma, sabor, intensidade), as folhas são separadas umedecidas, e colocadas numa ordem correta, há folhas para o meio e para a capa... E os nomes dos charutos têm origem na própria produção: Monte Cristo, um dos charutos mais famosos de Cuba, tem esse nome porque na sala de produção as pessoas trabalhavam com um funcionário lendo o romance "O conde de Monte Cristo".


Para completar, ao sair da fábrica, na praça ao lado da catedral de Havana, dei de cara com uma santeira típica, lendo cartas, com um charuto enorme na mão, as unhas pretas e dois dentes de ouro. Não resisti a uma foto, é claro.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Andanças por Havana

Fui para Cuba em 2007 com minha orientadora e chefe, num Congresso. Eu tinha uma imagem do país com mais ou menos uma década de atraso, quando a organização social planificada garantia uma excelente qualidade de vida aos cubanos. Depois da queda do muro de Berlim, com a continuação do embargo americano, a situação cubana piorou e, para atrair divisas, o governo começou a incentivar o turismo, e criou uma moeda pareada ao dólar que os turiatas devem utilizar. Assim, para o turista tudo custa 25 vezes mais do que para um cubano e existem lojas separadas, mas muitos produtos os cubanos simplesmente não conseguem encontrar. Essas informações eu tirei na net, num blog ótimo de um estudante brasileiro que estava morando em cuba (http://radicalrebelderevolucionario.blogspot.com/). Também vi as diferenças no dinheiro, porque alguns cubanos tentam enganar os turistas no câmbio. Mesmo assim, quando eu e minha orientadora decidimos andar pela cidade, sem destino, no dia seguinte, passamos por uma situação dessas. Ela começou a conversar com um casal de cubanos, que se propuseram a nos levar para conhecer a cidade. Fomos até a universidade, tiramos fotos com eles, depois fomos para o bairro de cultura afrocubana. É um lugar incrível, cheio de arte afrocubana, quadros, totens, barracas de ervas e muros pintados. No meio da empolgação, ele nos levou a um barzinho e começou com uma história de que na verdade haviam três moedas, e não duas. Pagou nossa conta e disse que nos levaria ao banco. Chegamos lá, mas o ambiente era meio esquisito, e quando trocamos o dinheiro, não nos deram o recibo. Desconfiamos, destrocamos e fomos atrás deles, que já estavam indo embora. Quando nos demos conta, estávamos na parte "cubana" da cidade: descobrimos então, na prática, que existiam duas Havanas. Alguns espaços da cidade destinados ao turismo foram reformados e algo cuidados, enquanto os espaços destinados à moradia dos cubanos estavam em condições bastante precárias: a cidade era um grande cortiço.

Mas não deve ser confundido com favela: não havia ninguém morando na rua, nem gente pedindo dinheiro e passando fome. Simplesmente nada havia sido destruído, mas nada havia sido conservado, então os prédios antigos de arquitetura neoclássica caíam aos pedaços, e as pessoas penduravam roupas nas janelas dos casarões do século XIX.
E enfrentam dificuldades: às vezes falta água, eles não podem comer carne, que é destinada apenas aos hotéis, e os balcões de abastecimento de alimentos do governo estão em péssimas condições de higiene. Fomos andando num calor imenso. Ali não passavam táxis de turista e éramos proibidas de pegar táxi cubano. Paramos um táxi de bicicleta, e pedimos para que aceitasse um dinheiro cubano que tínhamos. Contamos a situação de terem tentado nos enganar e ele disse: "agora vocês conheceram havana por dentro". Ele nos levou até uma praça central de turismo, onde continuamos nosso passeio até encontrar uns guardas, quando decidimos denunciar a tentativa de estelionato, já que tínhamos as fotos do casal. O guarda e todos os guardas com quem falamos depois me cantaram na cara de pau, e não fizeram muita questão de ajudar - nos indicaram uma delegacia e, quando chegamos lá, o delegado disse que não podíamos fazer a denúncia ali, tinha que ser na delegacia próxima do acontecido. Desistimos. E continuamos andando pela cidade, vendo o farol onde acontece a cerimônia do Canhoaço, e várias bombas são soltadas de canhões.
Quem vê aquela havana não imagina a Havana das vielas, logo ali, a duas quadras... Seguimos pelo Malecon, uma das avenidas principais da cidade, beirada pelo mar, por onde os revolucionários tomaram Havana e assumiram o governo. Chegamos às onze da noite, e fiquei espantada de ver o pique da minha orientadora após 13 horas de caminhada: ela tem sessenta e poucos anos, é fumante inveterada e sedentária, mas estava novinha em folha! Quando voltamos ao hotel, o garçom, para quem contamos a história, nos incentivou a denunciar e alertou a segurança do hotel. Ele nos explicou que quem fazia alguma coisa não era a polícia comum, mas a polícia de imigração, que cuidava dos turistas. Como a delegacia era próxima, lá fomos nós no dia seguinte. Qual não foi a nossa surpresa quando a policial de imigração, após pedir nosso passaporte, (que eu não tinha levado, mas que minha chefe forneceu) disse que as criminosas éramos nós, pois tínhamos feito câmbio ilegal, e que ela iria alertar a interpol!!!!! Ninguém merece. Descobrimos também que eles já tinham fotos do rapaz, embora não tivessem da fotos da menina, e que ele agira no mesmo lugar três ou quatro vezes naquele mês. Eles tinham todas as informações, na verdade... E muitos policiais trabalhavam disfarçados entre os cubanos, prendendo não apenas essas pessoas, mas também os contrários ao regime, de acordo com as fichas que vimos na própria polícia. Acabamos saindo de lá algo arrependidas da denúncia, mas ficamos mais tranquilas depois que amigos advogados aqui do Brasil disseram que nada iria acontecer com a gente. Voltamos para as nossas andanças, e só tivemos um susto final na hora de embarcar de volta, quando na cabine de imigração deixaram minha orientadora lá, uns 15 minutos, o policial olhando a foto do passaporte e o computador, a foto e o computador... Não existem armas em Cuba, o roubo é muito difícil, não existe essa nossa violência brasileira, mas em compensação, ainda bem que eles não dependem tanto da polícia, porque a mistura entre ordem civil e problemas políticos é geral.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Ilha grande: o holandês e o quarto do pânico

Ilha Grande é um verdadeiro paraíso, com as praias e matas preservadas, cheia de trilhas, passeios de barco, rapel e mergulho. Foi até eleita o 5° lugar mais bonito do mundo, pelos 100 maiores viajantes brasileiros, na revista Terra (edição nº 100 de Agosto de 2000). Mas como o lugar é só turístico, é preciso atenção com a hospedagem e os serviços. Existem cinco opções de hospedagem em Ilha Grande: albergues, pousadas, casas para alugar, camping e hotéis. A maior parte das hospedagens não é cara, e fora de feriados como reveilon e carnaval é possível encontrar hospedagem com diárias de 15 a 25 reais. Se você vai com uma turma grande, pode valer à pena alugar uma casa para todos. Se você vai sozinho, um albergue ou um camping podem ajudar a conhecer muita gente por lá. A ilha é praticamente só turística e existem muitos estrangeiros passeando, principalmente em outubro e novembro, quando são férias no hemisfério norte. Um dos melhores campings do povoado de Abraão, onde ficam a maior parte dos turistas, é o Camping Legal, na Rua Santana, que possui uma boa estrutura de banheiros e espaço. O melhor albergue é certamente a pousada do Holandês (http://www.ilhagrande.org/holandes / pousadaholandes@bol.com.br ). O lugar é lindo, não é caro (20 a 30 reais a diária por pessoa, dependendo se você vai ficar num quarto coletivo ou num chalé para duas pessoas), tem uma boa estrutura de armários, banheiros e ventilação - vai fazer falta no calor - e uma mesa coletiva para o café da manhã (maravilhoso!!!!), que ajuda a integrar os hóspedes. Todo mundo acaba se conhecendo, bem no espírito alberguista, no maio clima sombra e água fresca.

Mas cuidado na hora de alugar uma casa ou procurar uma hospedagem: às vezes ela pode não estar em boas condições. A não ser que você tenha uma dica, é melhor inspecionar o local. Após ter passado umas férias maravilhosas na pousada do Holandês, retornei a Ilha Grande no ano seguinte para o reveilon e, como não tinham mais vagas na pousada do holandês, reservei, por telefone,. dois pacotes de Reveillon, para mim e a minha mãe, no albergue Resta 1 (http://ilhagrande.org/pousadaresta1), pensando contar com a mesma qualidade. Quando chegamos lá, que decepção!!! O café da manhã era bom, mas o quarto era mal iluminado, com uma parte da parede no reboco, o banheiro não tinha box, nem espelho, enfim, o pior quarto que já fiquei na minha vida. Eu não sou fresca, mas aquilo era realmente péééssimo... Tão péssimo que, quando eu estava dormindo e a funcionária veio mostrar o quarto para outra possível hóspede, só ouvi ela falar: "Ali uma barata, que horror, aqui eu não fico." Tão péssimo que eu, minha mãe e Caroline, que estava hospedada com a gente, apelidamos o quarto de "quarto do pânico". Aliás, tínhamos certeza que a Jodie Foster não sabia o que era pânico de verdade, pois não tinha ficado ali. Como tínhamos comprado o pacote (e pagamos 500 reais por ele), a ilha estava cheia e não queriam nos devolver o dinheiro, eu, minha mãe e as outras meninas do quarto tivemos que nos contentar em reclamar até resolverem nossa situação. Algumas foram embora e, após dois dias, eu, minha mãe e Caroline conseguimos ser transferidas de quarto, juntamente com Luciana, a hóspede que havia se recusado a ficar no quarto do pânico. Descobrimos então que o andar de cima da pousada, onde estávamos, era o que aparecia no site da internet como parte do albergue, era pelo qual na verdade tínhamos fechado o pacote, e que eles nos colocaram num quarto em reforma para caber mais gente... Pelo menos no final, estávamos num bom quarto, e eu a Carol descobrimos que íamos para a Europa na mesma época e Luciana, que tinha acabado de chegar dos Estados Unidos, também ia morar em São Paulo, de modo que voltamos a nos encontrar depois da viagem. Mas ai, que saudade da pousada do Holandês!!

domingo, 16 de dezembro de 2007

A antiga Luxemburgo na Happy Hour

Luxemburgo é um país que não se enquadra muito bem na idéia de país, ou pelo menos não se enquadra na idéia de Estado- Nação. É um daqueles lugares na Europa que parece mais um principado ou um território de impostos free. Como o principado de Mônaco, que iniciou sua carreira sendo um território livre para onde os piratas podiam correr depois de roubar os navios. Luxemburgo é uma monarquia, um paraíso fiscal e, por isso mesmo, a capital econômica da União Européia, com muitas instituições da organização sediadas lá. Quando cheguei a Luxemburgo, tinha apenas a idéia de que era um país pequeno e perto o suficiente da França para que eu, a vovó e a Carol (pseudônimo para um amiga brasileira que eu conheci num albergue em Ilha Grande e com quem eu combinei de me encontrar em Paris) passássemos um final de semana em meio a nossos respectivos cursos de Francês. Além disso, nem a Carol nem a vovó, que já tinham viajado para a Europa, tinham ido para lá. Chegamos às 23h, eu fiquei com a vovó na estação e a Carol foi ver se encontrava um hotel bom e não muito caro. Tínhamos uma idéia de preço pela apostila que eu tinha montado com dados da internet, e ficamos satisfeitas quando a Carol voltou com a notícia de um hotel bacana que cobrava 90 euros pela diária do quarto duplo. Até porque, pelas andanças dela, os hotéis estavam meio cheios. Não tinha mais quarto triplo, mas eles nos arranjariam mais uma cama. Conversamos em francês com o dono do hotel, na recepção. Ele se lamentou (je suis desolé): não tinha mais cama. Subimos no quarto e descobrimos que as camas eram enormes. Dado o adiantado da hora, resolvemos nos virar assim mesmo, juntando as camas. E conversamos sobre isso em português. Então ele ficou feliz e nos respondeu em protuguês:
-Falam português! Não precisamos falar em francês. De onde são?
- Brasil, e você?
- Portugal. Vocês vão querer pequeno almoço?
Nos entreolhamos: "que raios é pequenos almoço". E a Carol: "Petit Dejeneur". E eu:
- Ah, você se refere ao café da manhã!
- Café da manhã? Que diferente! O pequeno almoço é servido das 7 às 10 da manhã.
- Tá bom, obrigada.
No dia seguinte, pegamos um ônibus para o centro e ao solicitar informações, descobrimos que a senhora parada do ponto também falava português. Andamos pela parte central de Luxemburgo, que não é muito grande é dá para percorrer a pé. Ela parece uma paisagem de contos de fadas, con castelos, uma ponte antiga de pedra e um muro que circundava o feudo que existia ali no século XIII.
Fomos ao Museu de História e Arte de Luxemborgo, de história antiga, arqueologia e arte, (http://www.mnha.public.lu/). O museu é muito bacana e vimos moedas do império romano com o rosto dos césares ("A césar o que é de césar!"), estátuas de culto das divindades celtas, como Epona e Téltatis, pertencentes aos gauleses que viviam por lá, reproduções de casas da idade da pedra. Em cima, havia um andar de belas artes, com pinturas de Cézane e Monet, e eu, que adoro pintura e não consigo ficar quieta, ia comentando os quadros com a vovó e a Carol. 'Você sabia que um dos objetivos de Cézane era conseguir representar a profundidade apenas pelos contraste de cores em primeiro plano, sem usar a perspectiva de da Vinci?"
Saímos de lá, visitamos uma igreja - a vovó queria rezar em uma igreja em cada cidade que passássemos, para pedir pela saúde de todos - e foi quando descobri que os vitrais contavam, na verdade, a história dos senhores feudais e reis que viveram por ali, com informações como "Nessa igreja casou-se fulano de tal, ano MDCXII", e a gravura representava o casamento.
Depois fomos fazer compras e passear pelas ruas. Resolvemos deixar para almoçar depois, tínhamos tomado um bom café da manhã no hotel. Luxemburgo é cheia de lojas de grife caríssimas (uma bolsa Luis Vuiton por mil euros, por exemplo), dá pra ver que as pessoas lá têm muito dinheiro. Mas achamos uma loja de departamentos com roupas de excelente qualidade em promoção de fim de inverno (comprei uma saia linda por 5 euros!) e esquecemos de vez o almoço. Às cinco e meia, resolvemos almoçar e saímos procurando um restaurante, olahmos alguns, e quando resolvemos parar, o rapaz nos explicou que fecharia. Fomos a outros, e aconteceu a mesma coisa. Às seis e dez, não tinha mais nada aberto!!!!!!! Achamos apenas um café, que fechava às seis e meia e a funcionária, compadecida da nossa situação, nos deu 15 minutos para comer o último croissant e os dois últimos brioches que ela tinha no balcão. Perguntamos porque tudo fechava tão cedo e ela explicou que a maioria dos funcionários, incluindo ela própria, não morava em Luxemburgo, mas em Bruxelas. Você consegue imaginar um país onde a maioria dos trabalhadores da capital mora EM OUTRO PAÍS????? Ela também disse, em português, que muitos que moravam em Luxemburgo eram imigrantes portugueses. Ou seja, para lá você pode ir tranqüilo, sem saber um segundo idioma. Não demora e você consegue um quarto, comida e informação. Só jantamos mesmo, e muito bem, às dez da noite, no restaurante chinês ao lado do hotel. Em muitos lugares da Europa, há chineses imigrantes que abriram um restaurante. Você pode confiar: a comida é boa, não é cara, e eles trabalham de verdade...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Bondes de Amsterdã

Em Amsterdã, todo mundo quer visitar as coffee shops e o Red Light District, certo? Mais ou menos: eu e minha avó resolvemos aproveitar o bem planejado sistema de bondes de Amsterdã e pegamos vários, para percorrer os diferentes locais da cidade. Estávamos num albergue próximo à estação de trem e a uns 30 minutos a pé do centro, que tinha um terminal de bondes e tiramos um dia para passear por eles. Funcionava assim: os bondes passam de 10 em 10 minutos. Nós pegávamos um bonde e percorríamos a linha em direçao ao bairro, parando quando achávamos alguma coisa interessante e percorrendo as ruas, e depois pegávamos o mesmo bonde, ainda em direção ao bairro, parando novamente, até o final ou até resolvermos que já tinha sido o suficiente, então pegávamos o mesmo bonde de volta. Os bairros um pouco mais afastados da cidade são geralmente residenciais, com casas de quatro ou cinco andares para cima e pelo menos um para baixo, todos com a mesma arquitetura. Parece um imenso condomínio de casas de vila... No terminal, podíamos pegar um bonde para outro destino ou voltar para o albergue, que estava próximo. Percorrendo as diferentes direções do centro, a toda hora dávamos de cara com o canal, que atravessa a cidade de todos os lados: é como se a cidade fosse cortada por inúmeros rios.

E reconhecíamos os pontos turísticos clássicos, que visitamos nos dias seguintes: os museus Van Gogh (http://www.vangoghmuseum.nl/), Rjksmuseum (http://www.rijksmuseum.nl/) e o museu Stedelijk, de arte moderna, que não conhecíamos (http://www.stedelijk.nl/), a casa de Ane Frank, que é uma verdadeira viagem pela Amsterdã da segunda guerra e o Voldenpark, além de uma exposição de arte turca que encontramos numa igreja restaurada que virou museu.

Pelo nosso "método", na direção do bairro, depois de uns 4 bondes, paramos num museu: o museu da cidade de Amsterdã, que contava a história da cidade - vale muito à pena, é interativo e bem diferente. Olhando os mapas e as informações do museu, descobrimos que tínhamos percorrido a maior parte da cidade! Eu conseguia até fazer uma idéia das regiões, de cabeça, pelo mapa... A explicação é que Amsterdã não é tao grande (700 mil habitantes) e os bondes são beeeem rápidos.

Curso de Francês em Paris

Interessado em fazer um curso de francês em Paris? Pesquise muuuuito bem. Organizar a viagem dá um certo trabalho, mas sai muito mais barato. As escolas de intercâmbio brasileiras cobram em média de 12 a 18 mil reais pelo intercêmbio de um mês, enquanto é possível conseguir a mesma viagem por 6 mil reais se você a organiza diretamente. O curso em si sai uma média de 600 euros por mês, a hospedagem 500 euros e a passagem de avião ida e volta SP-Paris-SP, 1000 dólares, mais as despesas com passaporte, taxas e coisas do gênero. Pesquisei algumas escolas pela internet, e é razoavelmente fácil obter informações sobre sua real existência e sobre sua idoneidade, pois existem sites do governo francês que relacionam as escolas autorizadas e ensinar para estrabgeiros.
A foto ao lado é da Langue Onze (http://www.langueonzeparis.com/fr/) , escola em Paris que fica ao lado da praça da república, no centro. É ótima e tem um bom preço. Ela é perfeita para intercâmbios de até três meses, pois trabalha com módulos de um mês em turmas de diferentes níveis. Assim, você entra numa turma e freqüenta as aulas durante um mês, depois pode entrar em outra com um nível mais avançado de francês. É ótimo ter aulas com pessoas de diferentes lugares do mundo: você aprende a ouvir independente do sotaque e é realmente obrigado a falar em francês. Na maioria das vezes, a própria escola se ocupa da hospedagem, e boa parte das famílias que recebe alunos estrangeiros tem alguma experiência nisso (há senhoras que recebem alunos estrangeiros todso o tempo, é incrível), e os preços são mais ou menos os mesmos de hotéis ou apartamentos, variando de 250 a 500 euros por mês pelo aluguel de um quarto, embora Justin, meu colega americano de classe, tenha conseguido alugar uma kit (minúscula) ao lado do metrô república por 400 euros, o que em Paris é um achado. Se você vai estudar, uma coisa superinteressante de Paris são os bares de "exchange". Funciona assim: você vai a um barzinho onde vão pessoas que querem falar outras línguas além da materna. Você fala, por exemplo, inglês, e quer aprender francês. Você é indicado para conversar com alguém que fale francês, e quer aprender inglês, e vocês falam um hora em cada língua. É claro que o português não faz muito sucesso por lá, mas se você fala uma terceira língua, como inglês, espanhol, italiano ou alemão, vai poder fazer a troca numa boa, e se não fala, pode pedir para participar com o francês mesmo, e acaba inserido em alguma rodinha.


Arrumar as malas

Uma boa viagem tem sempre uma dose de mistura com o espaço visitado. Como o diálogo na abertura de "O céu que nos protege", entre um casal de estrangeiros e o guia:
- Vocês são os primeiros turistas depois da guerra.
- Não somos turistas, somos viajantes.
- E qual a diferença?
O homem:
- O turista logo que chega quer voltar para casa.
A mulher:
- E o viajante pode nem voltar.
Mas para se misturar com o espaço, é preciso ter informações mínimas sobre ele... Começamos a viagem escolhendo o local, os meios de transporte, alguns lugares a visitar. Eu, por exemplo, odeio excursão! Ela é apenas o último recurso, quando é realmente perigoso viajar sozinha por um lugar, como no caso de visitar certos países do oriente médio, principalmente sendo mulher.
Existem algumas dicas para aproveitar bem o esquema "mochila nas costas e pé na estrada". Em primeiro lugar, viajar pelos mapas e pela internet antes de embarcar, ajuda a se ter uma idéia do que vamos encontrar. E ajuda a não se meter em roubada, por exemplo quando você sabe que em cidades como Havana e Praga tem gente que engana os turistas no câmbio. Em Havana, que tem uma moeda para os cubanos e outra para os turistas, com uma diferença de 25 para 1, alguns cubanos tentam enganar o turista, trocando o dinheiro deles pelo turístico. Em Praga, onde é comum as pessoas alugarem as casas para os turistas, às vezes pode ser um ótimo negócio, outras você pode levar gato por lebre. E em Paris, onde rachei o táxi com uma companheira de viagem, o taxista levou-a primeiro ao centro para depois levar-me perto do aeroporto, percorrendo o dobro do caminho...
Por isso, informações sobre o dinheiro, mapas, transporte público, são essenciais. E as da net costumam ser mais atualizadas, embora dê um pouco mais de trabalho para encontrar. Para outros países, encontrei sites ótimos, que oferecem os mapas do metrô de todas as cidades do mundo! Facilita a vida... No www.duemeturismo.com.br/index.php?dir=mapas_metro , você clica na cidade e no país, e a procura é bem fácil. No http://people.reed.edu/~reyn/transport.html , as cidades estão em ordem alfabética, às vezes é mais díficil de procurar, mas em compensação você consegue diversos links de mapas diferentes para a mesma cidade e pode escolher o melhor.
Eu cheguei mesmo a montar uma apostila com opções de hotéis, mapas da cidade e do transporte público de todas as cidades que ia visitar no meu primeiro mochilão pela Europa. Tentava sempre pesquisar hotéis próximos à estação ou de fácil acesso, pois o principal problema é transportar a mala e assim é possível economizar com táxi. Em Amsterdã, foi fundamental, porque descobri que muitos hotéis estavam lotados e o preço era bem caro. Assim, reservei com antecedência e consegui achar um hotel bom com o preço não tão caro. Sites bons para a pesquisa são http://www.hostelworld.com/ e http://www.hostelsclub.com/ , além do site da Federação Brasileira de Albergues da Juventude http://www.hostel.org.br/ . Deu trabalho, mas valeu a pena: eu tinha idéia de por quanto podia conseguir uma hospedagem, e mesmo quando não ficava naqueles hotéis acabava encontrando algum bom com preço parecido.
Em segundo lugar, é preciso levar o mínimo possível de coisas, de modo a poder transportá-las de um lado para o outro. Às vezes é difícil a gente se desprender e ter noção de que não dá para levar o nosso mundo todo quando viajamos... Para viajens pequenas, as coisas têm que caber em uma mala/mochila. Para viajens maiores, de um mês ou mais, costumo levar um mochilão grande e uma mala de rodinhas pequena, que é fácil de transportar. Coloco tudo o que é pesado na malinha pequena, e tudo o que é volumoso no mochilão. Assim, consigo carregar tudo o que preciso e ficar com as mãos livres. Foi dessa maneira que fiz o mochilão com a minha avó, levando praticamente toda a minha bagagem e a dela durante 45 dias (ela levou uma outra mala de rodinhas, pequena, e uma malinha pequena). É imprescindível também que sobre algum espaço na mala na partida, porque é claro que alguma coisa você vai comprar... Pode parecer bobagem, mas muita gente acaba não conseguindo fechar a mala, comprando outra mala, pagando excesso de bagagem.
Você se perguntou, durante toda a leitura, "que foto é essa"? É o rio Vtalva, que cruza Praga. Praga é com certeza um destino de viagem maravilhoso: a cidade é cheia de construções medievais e ruelas, possui o maior castelo do mundo na atualidade e é simplesmente linda. Não se preocupe: é uma cidade bem turística, então muita gente fala inglês.